quinta-feira, 16 de setembro de 2010

O problema é o jeitinho

Em sua obra "O Que Faz o Brasil, Brasil?", o antropólogo Roberto Damatta compara a postura dos norte-americanos e a dos brasileiros em relação às leis. Explica que a atitude formalista, respeitadora e zelosa dos norte-americanos causa admiração e espanto nos brasileiros, acostumado a violar e a ver violada as próprias instituições; no entanto, afirma que é ingênuo creditar a postura brasileira apenas à ausência de educação adequada. Pode-se creditar à pouca-vergonha do brasileiro. "Nos Estados Unidos, na França e na Inglaterra, somente para citar três bons exemplos, as regras ou são obedecidas ou não existem. Nessas sociedades, sabe-se que não há prazer algum em escrever normas que contrariam e, em alguns casos, aviltam o bom senso e as regras da própria sociedade, abrindo caminho para a corrupção burocrática e ampliando a desconfiança no poder público".

Nota-se que as nações desenvolvidas baseiam-se na essencia do Direito. Na esfera do profano (pensamento do leigo sobre o Direito) pode-se dizer que tudo o que está na Lei deve ser cumprido, o que não está é permitido.

No Brasil não funciona da mesma forma. Como diz Roberto Damatta, aqui a é tido como um simples "não", o não pode. Sobre isso ele diz: "Por tudo isso, somos um país onde a lei sempre significa o “não pode!”formal, capaz de tirar todos os prazeres e desmanchar todos os projetos e iniciativas. De fato, é alarmante constatar que a legislação diária do Brasil é uma regulamentação do “não pode”, a palavra “não” que submete o cidadão ao Estado sendo usada de forma geral e constante. Ora, é precisamente por tudo isso que conseguimos descobrir e aperfeiçoar um modo, um jeito, um estilo de navegação social que passa sempre nas entrelinhas desses peremptórios e autoritários “não pode!”. Assim, entre o “pode” e o “não pode”, escolhemos, de modo chocantemente antilógico, mas singularmente brasileiro, a junção do “pode” com o “não pode”. Pois bem, é essa junção que produz todos os tipos de “jeitinhos” e arranjos que fazem com que possamos operar um sistema legal que quase sempre nada tem a ver com a realidade social".

Chegamos enfim ao famoso "jeitinho" que muitos denominam "jeitinho brasileiro". Na realidade nada mais é do que a forma como as pessoas resolvem as situações, de certo modo, nem sempre benéficas a alguma das partes. A situação se desenvolveu de tal forma que se criou até um profissional do "jeitinho brasileiro", o malandro. Segundo Damatta, "O malandro, portanto, seria um profissional do “jeitinho” e da arte de sobreviver nas situações mais difíceis".

Moral da história, em época política profissional mesmo é o malandro.

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